domingo, 6 de janeiro de 2008

Estratégias Eleitorais Vencedoras

Para ser bem sucedido nas eleições, o candidato deve conhecer muito bem os eleitores, se possível lembrar do nome de cada liderança do interior, elogiá-los e bajulá-los. Deve procurar demonstrar espírito de generosidade oferecendo-lhes cargos na esfera pública (conhecidos como DAS) ou aparente prestigio com os “homens do Governo”, fazer propaganda de sua amizade com os poderosos do executivo, legislativo e judiciário. Deve ainda, levantar a esperança de seus lideres (ou “cabos Eleitorais”) que ao vencer todos serão “ajeitados” no governo, numa explícita política feudal clientelista.
É muito importante distribuir generosidade, demonstrar que suas posses estão a serviço do povo, principalmente das lideranças mais escondidas do interior, pois na capital as pessoas possuem maior instrução e acesso à informação tornando-as difícil de ludibriar com brindes e farras. Porém, talvez a renda privada do candidato não seja suficiente para atingir um grande número de lideranças e eleitores, mas seus amigos mais abastados podem ajudá-lo, bem como o uso do dinheiro público em festas e inaugurações que agradem à população mais humilde e ignorante. Ofereça grandes festas com muito barulho e movimentação em torno do nome do candidato. O candidato precisa estar na boca do povo, dizia um político das antigas “falem mal, mas falem de mim”. Garanta que os amigos, dentro e fora do governo, façam as mesmas práticas em benefício do nome do candidato, procurando atingir o maior número de eleitores em todo o Estado, o eleitorado específico de determinadas causas e os outros desconectados do mundo político ideológico, conhecidos como “alienados”.
Espalhe de todas as formas possíveis e imagináveis (boca a boca, mídia, propaganda paga, e outras) que o candidato fala bem, que os fiscais da fazenda e a classe média gostam dele, que os homens mais ricos, importantes e poderosos do Estado o estimam que os estudantes de todos os níveis se amontoam à sua volta para ouvir seus ensinamentos, que todos com que teve negócios saíram satisfeitos, e que as pessoas da capital e do interior apóiam sua candidatura. Faça com que o maior número possível de eleitores e lideranças (da capital e do interior) fale e pense que o candidato busca conquistar espaço no governo para resolver os problemas da população, principalmente a mais carente. Divulgue que multidões apóiam o candidato e sem nenhuma pressão declaram voto incondicional a ele. Demonstre que os eleitores do candidato são como uma torcida organizada pronta para apoiá-lo sob quaisquer circunstâncias, empunhando bandeiras e gritos com frases de ordem, num processo de intimidação e convencimento que misture medo e euforia, apelando sempre para a emoção irracional. Demonstre que a casa do candidato está sempre cheia de amigos, de pessoas de todas as classes e que as promessas do passado foram cumpridas, se não na sua totalidade em sua maior parte.
Durante a campanha devem ser levantadas contra seus adversários as suspeitas mais negativas possíveis e apropriadas à personalidade destes. Sempre que possível envolva-os em crimes, vícios e corrupção de todas as espécies, enfatizando a incapacidade, incompetência e desonestidade destes com as questões relativas à gestão pública. Lembre-se que este é o Estado do Piauí, o mais atrasado e pobre da Nação, habitado por um povo ignorante e, em maioria, alienado, que por décadas e décadas vem mantendo no poder o mesmo grupo de senhores feudal (sucedendo-se pai, filho, neto...) e suas práticas políticas que não nos levaram ao desenvolvimento.
Nossa política está povoada de partidos, lideranças e políticos forjados na falsidade, enganação, corrupção e vícios de todo tipo, assim, uma campanha deve estar atenta em relação a seus aliados, coligados e inimigos, pois nunca sabemos quem é quem neste jogo, cujas regras passam pela suspeita, a arrogância, o insulto, o olho gordo, a corrupção, o ódio, o poder pelo poder e a concentração deste nas mãos de poucos senhores feudal. O poder neste Estado pertence a poucos e o candidato não pode ser inimigo dos donos do poder (ou do dinheiro). Veja e aprenda com os vitoriosos políticos, aqueles que até mudam de partido, de ideologia, de bandeira ou mesmo mudam completamente a concepção de seus partidos para permanecer no poder e praticar o velho clientelismo de sempre.
É necessário, diante disto, muito bom senso, firmeza de caráter, personalidade e habilidade para que o candidato consiga evitar antagonismos, boatos e armadilhas, adaptando-se às regras sujas do jogo. Difícil mesmo é manter a integridade como ser humano e a preocupação com bem comum neste ambiente, porém isto não pode deter o candidato. O candidato tem que ter como meta fundamental chegar ao poder, assim ele pode mudar a sua realidade pessoal e de seus familiares e construir as bases financeiras para uma reeleição, fazer algo para livrar a população do atraso passa a ser uma inconseqüência do processo.
A eleição é um grande concurso público que avalia o carisma, a capacidade financeira / econômica e ausência de qualquer escrúpulo do candidato que, sendo vitorioso e sem caráter para estar sempre ao lado do poder, pode relaxar e ter a certeza de uma longa permanência no jogo. Estas são as estratégias que tornam as campanhas eleitorais vitoriosas em meio de uma população derrotada em suas esperanças por desenvolvimento e bem-estar. (Observação: este artigo tem inspiração e coloca a realidade dos nossos dias á semelhança do desenvolvido em texto do Senador Romano Cícero: 104 – 43 a.C., Notas sobre as eleições, Versículos 41, 50, 52 e 54, apud P. Mackendrik, The Roman mind at work, p. 178 – 9. Citado por Pedro Paulo Abreu Funari, em Roma, essa desconhecida, p. 26.)

Um comentário:

Anônimo disse...

O fato mais recente dessa busca por interesses próprios e mover o destino de uma nação como se fosse uma jogada para ascenção pessoal, foi o que assistismos pela votação à extinção da cpmf.